sábado, 16 de abril de 2011

Brasil e China: muito além da complementaridade









Há uma visão simples que decorre do cenário mundial atual tentando fazer crer que uma racional distribuição internacional de missões imporia a China como a grande indústria do mundo e o Brasil como o celeiro natural, produtor de alimentos e provedor de minérios. Trata-se da complementaridade fotográfica, imediatista e, em perspectiva, perversa.


Um resumo da recente visita da Presidenta Dilma Rousseff à China expressa o contraponto do pressuposto acima, demandando uma visão dinâmica que vai leva em conta a complexidade dos dois países e supera o simplismo da complementaridade estática.


Certamente a indústria chinesa crescerá e a China estará presente em todos os setores da economia mundial, cada vez mais. Da mesma forma, em que pese o destino brasileiro de grande, se possível o maior, produtor mundial de alimentos, o país não abdicará de ser também um importante centro industrial e de serviços, tendo na inovação de seus produtos e de seus processos elemento diferencial para a competição por espaços no comércio internacional.


É isso que sempre esteve em jogo: uma visão reducionista da complementaridade estática versus a legítima pretensão brasileira de parceria dinâmica que vai além da complementaridade e leva em conta a complexidade de dois gigantes do presente do futuro.


A título de exemplo, constitui fato marcante e divisor de águas uma empresa como a Foxconn, detentora de mais de 30.000 patentes, empregando mais de um milhão de trabalhadores e líder mundial de componentes para a indústria eletrônica, definir o Brasil como estratégia central para o crescimento de seus negócios. O Brasil se consolidará como a primeira nação ocidental detentora do ciclo completo da tecnologia de transistores de filmes finos para produção de displays para toda a cadeia que vai de celulares a telas grandes de TV, passando por painéis de automóveis, tablets e notebooks.


Nada é simples e nem imediato. São operações delicadas e demandantes de ações e disponibilidades nem sempre existentes a priori. Por exemplo, ficando somente no caso ilustrativo acima, seriam necessários de imediato mil engenheiros e técnicos brasileiros para iniciarem suas capacitações em instalações em fábricas em Taiwan e China. Sabemos não ser simples, mas assumi-lo como impossível antes mesmo de tentar é abrir mão de nosso futuro num campo absolutamente estratégico. Como já afirmado anteriormente por outros: “Foi quase por ingenuidade, que não sabendo ser impossível, acabou-se cumprindo a missão; se soubessem que não era possível, não o teriam feito, mesmo porque sequer teriam tentado”.


Ao longo do próximo período, Brasil e China, com relação ao tema inovação, estão definindo que avançaremos e muito na colaboração entre os dois países. Do lado brasileiro, o Ministério de Ciência e Tecnologia, em parceria com demais ministérios, estados e municípios, associados às empresas do setor e aos institutos de pesquisa e universidades interessados, estabelecerão um plano de trabalho conjunto com o Ministério de Ciência e Tecnologia da China, a Academia Chinesa de Ciências, empresas e universidades daquele país, a exemplo de Tsinghua e Beijing.


Uma das primeiras iniciativas na área de inovação será a instalação em breve de um Laboratório China-Brasil em Nanotecnologia, com ênfase em nanomateriais, nanobiotecnologia e nanodispositivos. São planos pretensiosos para o futuro, ma com os pés bem fincados em ações em curso no presente.


Cruzar a fronteira da ilusão reducionista do imediatismo e abrir espaços para preparar os tempos que virão, contemplando a real potencialidade das nações, é um dos mais precisos desafios que a realidade atual desses dois países impõe que sejam discutidos e definidos.



(na foto, Prof. Mo-Lin Ge do Instituto de Matemática da Universidade Nakai de Tian-Jin e Prof. Adalberto Fazzio da USP. Eu tirando a foto)